LONGE DO REAL

ONG alerta para subnotificação de autistas em Uberaba e cobra ações do poder público

Joanna Prata
Publicado em 01/06/2025 às 14:42Atualizado em 02/06/2025 às 05:53
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Evento voltado à valorização da produção artística de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto/Divulgação)

Evento voltado à valorização da produção artística de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto/Divulgação)

Apesar de o Censo 2022 apontar que apenas 1,2% da população de Uberaba está dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o número está longe de refletir a realidade vivida por famílias na cidade. A avaliação é da ONG Laço Azul, que acolhe e acompanha pessoas autistas e seus responsáveis. Atualmente, a entidade tem cerca de 850 autistas cadastrados — e esse número cresce a cada dia.  

Em entrevista ao Jornal da Manhã, Luiza Coelho, Karla Coelho e Mariângela Terra Branco que são respectivamente presidente, secretária e tesoureira da Laço Azul em Uberaba, disseram que a metodologia do Censo contribuiu para a subnotificação. Segundo elas, a pergunta sobre o autismo foi feita de forma aleatória, ou seja, não apareceu nos questionários de todos os domicílios, o que excluiu muitas famílias do levantamento.   

Além disso, elas alertam que o número reduzido de diagnósticos formais, motivado pela falta de especialistas na rede pública, agrava o problema. “Não temos neurologistas ou psiquiatras no SUS. O diagnóstico fica inível para muitas famílias, que acabam desistindo da busca por medo, falta de informação ou por não saberem onde procurar ajuda”, apontam as representantes da ONG.  

Luiza, Karla e Mariângela ainda ponderam que, na prática, o processo de diagnóstico é demorado e burocrático. O sistema público exige laudos de especialistas que não existem em número suficiente, o que retarda o o a tratamentos fundamentais para o desenvolvimento da criança. “O tempo de espera é longo e desastroso. O autista não pode perder um segundo sequer de estimulação”, alerta a ONG. Em média, as crianças chegam à Laço Azul diagnosticadas aos 3 anos, mas há casos desde os 12 meses até a fase adulta.  

As representantes da ONG também alertam que a desigualdade social aprofunda ainda mais o problema. Famílias com recursos conseguem pagar consultas e terapias, enquanto as mais pobres enfrentam anos de espera. “Com isso, perdemos oportunidades de desenvolvimento, e as consequências aparecem nas escolas: crianças sem apoio, professores adoecidos e famílias desesperadas”, diz. Elas criticam a falta de capacitação dos profissionais da Educação e a ausência de materiais adaptados e apoio escolar adequado para estudantes no espectro.  

Apesar do aumento dos diagnósticos nos últimos anos, a equipe da ONG alerta que o crescimento da prevalência do autismo pode ir além da maior conscientização. Cita estudos que apontam fatores ambientais como poluição, agrotóxicos, alimentos ultraprocessados e intoxicações por metais pesados como possíveis causas. “Precisamos falar sobre isso com urgência. A previsão é que, no futuro, 1 em cada 2 nascidos possa estar no espectro autista”, alertam Karla, Luiza e Mariângela.  

Para mudar esse cenário, a ONG defende ações concretas do poder público, como a formação de médicos para o diagnóstico precoce e uma reestruturação urgente da educação inclusiva. Além disso, chama a sociedade a se envolver: “A causa do autismo é de todos. Precisamos de empatia, informação e apoio. Seja participando, doando, acolhendo ou apenas ouvindo. Juntos, podemos combater o preconceito e promover uma sociedade mais justa para todos”, finaliza. 

Como é feita a pesquisa do IBGE":[]}