BIODIVERSIDADE

Libélula desaparecida há mais de um século é redescoberta em Uberaba

Descoberta foi feita pesquisadores da UFTM na RPPN Vale Encantado e revela um segredo da biodiversidade brasileira guardado desde 1909

Publicado em 04/06/2025 às 12:04
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Macho (a–b) e fêmea (c–d) de Lestes quadristriatus juntamente com seus habitats aquáticos (e-f) na Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado, Uberaba–MG, Brasil (Foto/Divulgação)

Macho (a–b) e fêmea (c–d) de Lestes quadristriatus juntamente com seus habitats aquáticos (e-f) na Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado, Uberaba–MG, Brasil (Foto/Divulgação)

Uma espécie de libélula que estava desaparecida da ciência há mais de um século acaba de ser redescoberta em Minas Gerais. O achado surpreendente foi feito durante uma expedição na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Vale Encantado, em Uberaba, por pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em parceria com a Universidade de São Paulo e Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina.

Em 1909, o entomologista Philip P. Calvert descreveu a libélula Lestes quadristriatus, mas desde então nenhum novo registro da espécie havia sido feito. Por mais de 100 anos, esse nome permaneceu como uma referência quase esquecida na literatura científica, até que uma coleta recente na RPPN Vale Encantado revelou um exemplar misterioso do gênero Lestes, que intrigou os especialistas. “Parecia uma nova espécie, completamente diferente de tudo que conhecíamos na região”, relata o biólogo e Doutor em Entomologia, Vinicius Lopez, que participou da descoberta.

“No começo, pensamos ser uma espécie nova, originária do cerrado. Como o inseto estava um pouco danificado, tivemos uma pequena dificuldade, mas após um exame cuidadoso, percebemos que o nosso “Lestes misterioso”, era um velho conhecido”, acrescenta Rodrigo R. Cezário, primeiro autor do artigo publicado na revista Studies on Neotropical Fauna and Environment.

Além do registro na RPPN Vale Encantado, a equipe também encontrou indivíduos da espécie na cidade de Corinto (MG), o que ajudou a confirmar sua identidade e ampliar o conhecimento sobre sua distribuição geográfica. “Muitas vezes, uma redescoberta é mais significativa do que a descrição de uma nova espécie. Esclarecer a identidade de uma espécie pouco conhecida é crucial para delimitar corretamente os gêneros”, complementa o biólogo e co-autor do artigo, Frederico Augusto de Atayde Lencioni.

Com os exemplares bem preservados, os cientistas puderam corrigir a descrição original da espécie e, pela primeira vez, descrever formalmente a fêmea de L. quadristriatus – uma lacuna que permanecia aberta há mais de um século. Esse feito reforça o papel da cooperação internacional em estudos de biodiversidade. “A cooperação internacional é vital para o avanço das ciências no mundo, mas muito especialmente em regiões como a América Latina, onde compartilhamos uma biodiversidade única e os recursos financeiros disponíveis nunca são suficientes. Os organismos não reconhecem as políticas de fronteira, por isso seu estudo nos impõe trabalho de forma cooperativa” complementa Javier Muzon, biólogo da Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina.

Localizada dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Uberaba, a RPPN Vale Encantado é a única reserva particular da região e já abriga mais de 160 espécies registradas. A redescoberta da libélula reforça a importância dessas áreas para a conservação da biodiversidade e para o avanço da ciência.

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