“Dê ao homem um peixe e ele se alimentará por um dia. Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida.” Este antigo provérbio chinês (atribuído a Lao-Tsé, importante filósofo da China Antiga) continua trazendo a mensagem figurada com relação à necessidade do desenvolvimento contínuo e sistemático de profissionais. Nessa linguagem utilizada, o Estado pratica o assistencialismo por tempo limitado, até que o cidadão beneficiado possa se tornar autossuficiente, com profissão definida.
Muitos países, e também o Brasil, optaram nas últimas décadas por praticar o assistencialismo, ou seja, dar o peixe para aqueles segmentos da sociedade que se localizam na linha da pobreza. Essa prática se tornou rotineira e progressiva, sempre aumentando o número de pessoas assistidas e diminuindo as capacidades de trabalho e do Estado em aplicar em infraestrutura, além do fato do sacrifício financeiro daqueles que trabalham para manter os que não trabalham.
Décadas adas, a Grécia, através deste mesmo mecanismo, chegou a 25% da população dependendo do Estado. Foi à bancarrota e, nos anos seguintes, reviu os conceitos, mesmo porque a oposição foi eleita, tirando a Grécia dessa situação incômoda.
Cristovam Buarque foi governador do Distrito Federal de 1995 a 1998 e foi o primeiro a criar no Brasil uma bolsa: a Bolsa Escola, onde havia uma meritocracia, pois a família carente receberia a bolsa desde que “comprovasse que seus filhos estavam matriculados na escola”. Em vídeo, Cristovam lamentou que o presidente Lula mudasse o sentido da bolsa, ao criar a Bolsa Família, dizendo à família “vocês vão receber a bolsa porque são pobres”, tirando a obrigação dos filhos de estudarem, atitude que foi uma involução. Assistencialismo, em resumo, é um sistema ou prática social que visa apenas fornecer ajuda pontual e paliativa a pessoas em necessidade, sem abordar as causas estruturais dos problemas sociais. Ao contrário da assistência social, que busca o desenvolvimento e a autonomia dos indivíduos, o assistencialismo pode gerar dependência e não promove a transformação social.
No momento, 27% da população brasileira (57 milhões) recebe Bolsa Família, não sendo contada como desempregada, mas grande parte, para receber o Bolsa Família, não podendo ter carteira de trabalho assinada, faz trabalhos temporários ou intermitentes para terceiros. Está no forno o próximo assistencialismo: projeto para isentar 60 milhões de brasileiros de pagar energia elétrica.
Jorge Lima, atual secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, em texto relatou que “o Estado de São Paulo tem 250 bilhões de reais para aplicar em infraestrutura, mas, como não está encontrando mão de obra suficiente no Estado, desde 2024 está buscando venezuelanos em Roraima”. Percebe-se que a dosagem exagerada de uma medida gera transtornos, ou seja, efeitos colaterais, como o estímulo à ociosidade, sem perspectiva de um futuro promissor para o beneficiado.
O governo do presidente Lula mandou ao Congresso Nacional uma série de ajustes na proposta orçamentária de 2025, o que incluiu um corte de R$7,7 bilhões no programa Bolsa Família, de acordo com ofício do Ministério do Planejamento. Em abril deste ano, o presidente Lula, com muita lucidez, disse que “brasileiro não pode ser eternamente pobre e dependente do auxílio”. A partir de agora, famílias que tiverem melhora financeira a ponto de ultraar os limites de renda do programa terão direito a 50% do benefício por apenas mais 12 meses. Até então, esse período era de 24 meses. Traduzindo: se o todo é representado pelo país e uma parte vive do Bolsa Família, para o país sobreviver é necessário uma macropolítica para oferecer aos carentes uma profissão e um melhor futuro. O desafio, um pouco distinto daquele preconizado pelo provérbio chinês, é a obtenção do equilíbrio de forças voltadas ao se “dar o peixe” e ao se “ensinar a pescar”.
Nenhum país ou cidadão, nenhuma família ou cidade, progredirá se não houver trabalho. A deputada federal Érika Hilton propôs a diminuição dos dias trabalhados (trabalha 6 e descansa 1) para 4x3 (trabalha 4 e descansa 3). Assisti um economista dizer que “essa proposta, se aceita, a médio prazo acarretará diminuição de 7,5% do Produto Interno Bruto”, pois tanto o Estado, que está com desequilíbrio fiscal grave, com dificuldades para pagar seus servidores em 2027, assim como empresas particulares terão que contratar mais ou fecharem suas portas. Enfim, considero uma insanidade a proposta dessa deputada.
O envelhecimento da população brasileira sobrecarregará ainda mais a Previdência Social, além da perspectiva do não crescimento da população, o que promoverá menor oferta futura de mão de obra jovem. Para manter o crescimento da população, são necessários 2,2 filhos por casal, mas atualmente é 1,8. A somatória dos fatos citados traduz um futuro nada promissor para a economia brasileira.
Estatísticas demonstradas por Christopher Jencks, emérito professor britânico de Sociologia, evidenciam que a desigualdade social seria reduzida em apenas 9% se todas as pessoas tivessem o mesmíssimo nível educacional e que o número maior de escolas e faculdades não determina o fim da desigualdade de renda.
Hong Kong é uma ilha que nem sequer possui água, bem diferente da riqueza do Brasil. Foi ocupada pelos ingleses no período de 1841-1997, dedicando-se ao livre comércio. Hoje possui renda “per capita” maior do que a dos ingleses. Motivo desse milagre: trabalho intenso e disciplinado.
Com racionalidade, o atual prefeito de Bento Gonçalves, RS, Diogo Siqueira, PSDB, tem buscado trocar a dependência do Bolsa Família por empregos. “O que a gente quer é fazer com que todas as pessoas trabalhem. Eu acredito, de uma maneira muito sensata, que o Bolsa Família, da maneira com que ele está sendo feito no Brasil, é prejudicial para todo o país. Todas as pessoas que podem ter uma oportunidade de trabalho, que tenham saúde, devem trabalhar”, afirmou o prefeito, em entrevista à CNN.
Milhões de brasileiros recebem sem trabalhar, ou seja, estão desempregados, mas ao se oferecer trabalho para esses cidadãos, a imagem que se a à sociedade é que estão sendo hostilizados, sendo castigados e obrigados a trabalhar. É um paradoxo o desempregado não aceitar o trabalho. Porém, dizem os psiquiatras que “o ser humano está adequadamente inserido na sociedade pelo trabalho”.
Albert Einstein dizia que “a maior força do mundo não é a de uma bomba atômica, mas sim a força de vontade”. Para trabalhar é preciso força de vontade. Com convicção, respondo à pergunta do título deste texto: trabalho não é castigo, é prêmio, é a fonte do sucesso.